O ecossistema brasileiro de construtechs e proptechs apresenta sinais de resiliência, crescimento e amadurecimento, mesmo diante do “inverno das startups”, um período desafiador para o mercado de tecnologia.
O setor agora conta com 1.068 startups ativas, um aumento de 11,4% em relação às 955 empresas mapeadas em maio de 2022, segundo o 7º Mapa de Construtechs e Proptechs, publicado pela Terracotta Ventures, principal empresa de venture capital nos mercados imobiliário e de construção civil da América Latina.
A taxa de crescimento, apesar de significativa, desacelerou nos últimos anos, quando superava os 13%. No entanto, a taxa de mortalidade de startups diminuiu para 5,2%, menor do que os índices registrados no biênio anterior (11,9% e 13,7%). Esses dados indicam uma estabilização na criação de novos negócios digitais e maior maturidade das startups dedicadas ao ramo imobiliário.
Investimentos em startups early-stage aumentam
O mapa também mostra um crescimento nos investimentos em startups early-stage entre maio de 2022 e maio de 2023, com um aumento de 24,4%, chegando a R$ 789 milhões. As startups de São Paulo ficaram com 52% do volume investido, seguido por Santa Catarina (33%) e Rio de Janeiro (6%). A Terracotta Ventures foi a investidora mais ativa no segmento no país, participando de 40% dos dez maiores aportes early-stage do ano.
No entanto, o segmento de venture capital ao longo de toda a cadeia de construção civil e imobiliário, incluindo negócios de fases mais avançadas, teve uma queda de 56% no volume investido em 2022, totalizando R$ 2,55 bilhões, em comparação aos R$ 5,83 bilhões de 2021. Além disso, houve um recuo de 30% no total de aportes no setor, passando de 67 para 47 rodadas de um ano para o outro.
Janela de oportunidades se abre
Bruno Loreto, managing partner da Terracotta Ventures, acredita que os números comprovam a existência de uma janela de oportunidade para investidores e startups com soluções inéditas e capazes de impulsionar a digitalização do setor, especialmente aqueles relacionados aos investimentos Anjo, Pré-seed e Seed.
Loreto também aponta que há diversas teses onde a demanda por tecnologia é crescente, com empreendedores valorizando um crescimento mais equilibrado e um cenário competitivo menos agressivo, traduzindo-se em possibilidades de bons negócios.
Maturidade do setor influencia fusões, aquisições e M&As
O futuro do venture capital em negócios digitais na construção civil e mercado imobiliário é promissor, uma vez que o segmento amadureceu em quantidade e qualidade de empreendedores. O mercado de construção civil valoriza e demanda cada vez mais tecnologia, indicando uma continuidade no crescimento dos novos negócios e a viabilidade de bons “deals”.
“A demanda por tecnologia como motor de eficiência e competitividade das empresas tradicionais que estão buscando se digitalizar tende a continuar aumentando; e se há demanda por tecnologia, a melhor receita para qualquer startup é o dinheiro do cliente, da venda da solução e na proposta de valor que são capazes de gerar. Essa combinação vai consolidar algumas teses de negócios e incentivar operações de fusões, aquisições e estratégias de M&A”, explica Bruno Loreto.
O mercado também deve se retroalimentar a partir dos layoffs que ocorrerem, pois devem impulsionar o retorno de empreendedores para o mercado com novas ideias e soluções que podem renovar o ciclo de negócios digitais no ramo da construção civil e imobiliário brasileiro.
Perfil do ecossistema de construtechs e proptechs no Brasil
Mais de 70% das construtechs e proptechs brasileiras estão nos estágios iniciais de desenvolvimento, entre operações Pré-seed e Seed. Esses negócios são aqueles que se encontram nas etapas de validação e comprovação da viabilidade da ideia e do negócio em potencial, fase em que a maioria das startups quebra em decorrência de dificuldades financeiras.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Mapa das Construtechs e Proptechs mostra que as startups com soluções voltadas para propriedade em uso formam o maior número de negócios digitais do setor ativos no país. Na sequência, aparecem as empresas com ferramentas e tecnologias dedicadas à aquisição, construção e projeto e viabilidade de imóveis.
Os investimentos early-stage seguem a tendência dos setores que mais crescem dentro desse ecossistema de inovação. Startups relacionadas a processos e tecnologias dedicadas a propriedades em uso conquistaram praticamente 40% de todo o volume arrecadado pelas startups early-stage no setor no ano passado. Em seguida, aparecem as startups dedicadas à aquisição (32%) e construção (19%).
Atualmente, 120 startups do segmento de construção civil e imobiliário no Brasil estão relacionadas com soluções voltadas para condomínios, segmento que teve crescimento de quase 30% no ano passado. Além dos condomínios, também são macrogrupos representativos aqueles que compõem negócios digitais para Gestão de Obras, intermediação digital, captação de recursos e Compartilhamento de Espaços.
Das 1.068 startups mapeadas, a maior parte delas está concentrada nas regiões Sul e Sudeste do país (88,5% do total), com destaque para os estados de São Paulo (44,8%), Santa Catarina (12%) e Paraná (9,5%). No entanto, o ritmo de crescimento das regiões Nordeste (17,8%) e Centro-Oeste (13,9%) é superior à média nacional, demonstrando uma tendência de maior capilarização do ecossistema. Proporcionalmente, os destaques entre os estados são o Ceará e Pernambuco, que aumentaram o número de negócios no setor, respectivamente, em 38,46%.
Essa expansão do ecossistema de construtechs e proptechs no Brasil demonstra a crescente importância do setor na economia nacional. A inovação e a tecnologia aplicadas ao mercado imobiliário e à construção civil estão revolucionando a forma como as pessoas lidam com imóveis, desde a concepção e construção até o uso e gestão das propriedades.
O aumento no investimento em startups early-stage reflete a confiança dos investidores no potencial dessas empresas para alavancar a digitalização do setor. Além disso, a desaceleração no crescimento de novas startups e a redução na taxa de mortalidade das empresas indicam um amadurecimento do ecossistema, com empreendedores mais preparados e focados no desenvolvimento de soluções eficientes e sustentáveis.
É importante ressaltar que a colaboração entre as startups e as empresas tradicionais do setor é fundamental para a consolidação das inovações propostas pelas construtechs e proptechs. Com a adoção de novas tecnologias, as empresas de construção e imobiliárias podem aumentar sua eficiência, competitividade e sustentabilidade, gerando benefícios para os clientes e para o meio ambiente.
O que esperar para 2023?
Em 2023, o mercado de venture capital na construção civil e mercado imobiliário deve continuar focando em soluções inovadoras que atendam às principais demandas e tendências do setor. Algumas áreas promissoras incluem:
Soluções voltadas para a redução de custos: Com a instabilidade econômica e o aumento nos custos dos materiais de construção, as tecnologias que promovem a redução de custos na construção se tornam cada vez mais relevantes e atraentes para investidores.
Soluções de otimização comercial e de vendas: Diante da retração no volume de novos lançamentos imobiliários e da receita, o mercado busca soluções que otimizem os processos de venda e reduzam o risco de distrato, melhorando a eficiência e a rentabilidade do setor.
Soluções financeiras para o setor imobiliário: As real estate fintechs continuarão a atrair investimentos, já que oferecem maior eficiência na conexão entre os setores financeiro e imobiliário. Essas empresas podem contribuir para a ampliação do acesso ao crédito, mesmo em um cenário de restrições.
Soluções voltadas ao ESG: Negócios que abordam aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa se tornam cada vez mais relevantes, devido ao papel central do mercado imobiliário na questão das emissões de carbono e dos impactos ambientais. Investimentos nesse segmento buscam incentivar práticas sustentáveis e responsáveis.
Conclusão
Diante desse cenário promissor, espera-se que o setor continue atraindo investimentos e gerando oportunidades de negócio para as startups e investidores. Além disso, a maior maturidade do ecossistema deverá impulsionar fusões, aquisições e estratégias de M&A, consolidando as empresas e permitindo que se expandam e conquistem novos mercados.
Nesse contexto, é fundamental que empreendedores, investidores e empresas do setor estejam atentos às tendências e aos desafios enfrentados pelas construtechs e proptechs. Com um ecossistema cada vez mais maduro e dinâmico, o Brasil tem o potencial de se tornar um dos principais polos de inovação e desenvolvimento tecnológico no setor imobiliário e de construção civil a nível mundial.
Notas complementares
ESTÁGIO
Mais de 70% das construtechs e proptechs brasileiras estão nos estágios iniciais de desenvolvimento, entre operações Pré-seed e Seed, conforme mostram os dados coletados pelo 7º Mapa das Construtechs e Proptechs no Brasil. Esses negócios são aqueles que encontram-se nas etapas de validação e comprovação da viabilidade da ideia e do negócio em potencial. É justamente nesta fase que a maioria das startups quebram em decorrência de dificuldades financeiras.
Estágio | volume de empresas
Pré-Operacional: 17,89%
Pré-seed: 45,8%
Seed: 29,7%
Séries A: 5,55%
Pós Série A: 1,07%
SETORES
Pelo terceiro ano consecutivo o Mapa das Construtechs e Proptechs mostra que as startups com soluções voltadas para propriedade em uso formam o maior número de negócios digitais do setor ativos no país. Na sequência aparecem as empresas com ferramentas e tecnologias dedicadas a aquisição, construção e projeto e viabilidade de imóveis.
Setor | Volume de Startups
- Propriedade em uso: 7,0%
- Construção: 24,2%
- Aquisição: 33,5%
- Projeto e Viabilidade: 35,2%
ALOCAÇÃO
Os impactos dos investimentos early-stage seguem a tendência dos setores que mais crescem dentro desse ecossistema de inovação. Conforme aponta o 7º Mapa das Construtechs e Proptechs, startups relacionadas a processos e tecnologias dedicadas a propriedades em uso conquistaram praticamente 40% de todo o volume arrecadado pelas startups early-stage no setor no ano passado. Em seguida aparecem as startups dedicadas à aquisição (32%) e construção (19%).
Setor | Soma de captado
- Propriedade em uso: 39,73%
- Aquisição: 31,92%
- Construção: 19,08%
- Projeto e Viabilidade: 9,27%
MACROGRUPOS
Hoje, 120 startups do segmento de construção civil e imobiliário no Brasil estão relacionadas com soluções voltadas para condomínios. Este segmento que teve crescimento de quase 30% no ano passado, conforme o 7º Mapa das Construtechs e Proptechs. Neste grupo os destaques são para soluções que englobam comodidade, sustentabilidade e soluções de crédito imobiliário.
Além dos condomínios, também são macrogrupos representativos aqueles que compõem negócios digitais para Gestão de Obras (59), intermediação digital (51), captação de recursos (51) e Compartilhamento de Espaços (35). Os macrogrupos de captação de recursos e métodos construtivos também tiveram crescimento na faixa dos 30%.
PRESENÇA
Das 1.068 startups mapeadas, a maior parte delas está concentrada nas regiões Sul e Sudeste do país (88,5% do total), com destaque para os estados de SP (44,8%), SC (12%) e PR (9,5%). Entretanto, o ritmo de crescimento das regiões Nordeste (17,8%) e Centro-Oeste (13,9%) é superior à média nacional. Isso demonstra uma tendência de maior capilarização do ecossistema. Proporcionalmente, os destaques entre os estados são o Ceará e Pernambuco que aumentaram o número de negócios no setor, respectivamente, em 38,46%.